"Enfadado, enfadonho, lutando pelo seu sonho, eternamente gira em busca procurando tar"



O mundo de Arrabal

quinta-feira, 31 de março de 2011
Fando e lis

O absurdo do mundo do dramaturgo espanhol FERNANDO ARRABAL não nasce do desespero do filósofo em busca de penetrar o segredo da existência, mas da absurdidade dos personagens que vêem a situação humana com os olhos da simplicidade ou imediaticidade infantil que não permite uma maior compreensão da realidade do objeto observado. Também como as crianças, seus personagens são por vezes cruéis, porque não compreenderam ou sequer tentaram compreender a existência de uma lei moral. E assim como as crianças, eles sofrem a crueldade de um mundo como flagelos incompreensíveis.
Geralmente o herói de Arrabal é ambíguo. Tirano e escravo, bom e cruel, inocente e culpado, vitíma e carrasco, vive sempre à margem de um mundo ordenado que ele não compreende. Seu espaço, a terra de ninguém: sua condição, a miséria. A maior ameaça que paira sobre ele vem do mundo exterior, expressa através da repressão brutal e anônima que supreende seus valores anti-sociais sua liberdade, acabando por imobilizá-lo . Nessa situação, a personagem feminina de Arrabal é mais lúcida que o homem, realizando uma mediação entre o herói e o mundo opressor. A mulher aparece sempre sob o tríplice aspecto de mãe-criança-prostituta, plena de instintos e intuição. Escrava e déspota, ela é a fonte de todas as possibilidades de iniciação do homem. E toda dramaticidade de Arrabal vem do jogo das relações entre os personagens e das multiplas combinações que seus caracteres ambíguos lhes permite.

Nenhum comentário:

Postar um comentário